quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Balada da Neve de Augusto Gil




Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.


É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho…


Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.


Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria…
. Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!


Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho…


Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança…


E descalcinhos, doridos…
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!…


Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!…
Porque padecem assim?!…


E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.


Augusto Gil

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

AURORA DO OUTONO


A aurora do Outono estava triste com o Sol. O astro-rei demorava em levantar-se, depois de um Verão que lhe deu muito que fazer.

É nesta época do ano que as noites suplantam os dias, o êxtase da praia dá lugar à ânsia das prendas e das rabanadas do Natal.

Não culpemos a chuva pelos resfriados inesperados nem as folhas do chão pelas escorregadelas incautas. Abriguemo-nos, sim no fogo de uma lareira acabadinha de fazer, porque o ressoado das janelas faz-nos esquecer a intempérie lá de fora.

Sejamos felizes, então no Outono deste ano, porque o Inverno está quase, quase a chegar

Autor: Prof. Artur Santos